domingo, 20 de setembro de 2009
Devaneador
Somos o mesmo personagem em mil fábulas
Crônicas
Rabiscos
Somos nós em cada canção
Em todos os tons
Em todas as línguas
Somos nós em cada silêncio
Nas orações das beatas
No sorriso bobo do gozo
A lágrima borrada do Pierrot
Somos nós nas bandeiras tremulantes
Dos peitos dos generais
E na máquina de escrever enrijecida de ausência
Somos nós nas calçadas entulhadas
Nas abas dos chapéus
Nas pontas dos cigarros
Nos discos arranhados
Nas cartas não escritas
No afago rejeitado
Somos nós estirados nos bancos da praça
E em cada gole de cachaça
Somos nós nas vitrines embaçadas
Nas vitrines estilhaçadas
Nas vitrines recolocadas
E na suspeita simpatia dos vendedores
Somos nós nas fotografias de paisagens
Nas linhas traiçoeiras dos contratos
Nas xícaras intermináveis de café
E nas mensagens subliminares dos sonhadores
Somos nós na cegueira da culpa
Nas pernas dos covardes
E no escárnio dos intrépidos
Somos nós o dedo no gatilho
E o próprio alvo
A idéia perdida nas avenidas ensolaradas
A juventude perdida nas avenidas ensolaradas
A saudade e a despedida nas avenidas ensolaradas
Somos nós a saudade
Somos nós a saudade
Somos nós a saudade
O choro abafado
O travesseiro encharcado
As noites em claro
Somos nós a insônia
E agora somos nós de frente pro espelho
Um olhar envolve o outro
Somos nós o que somos
E assim já não somos mais...
segunda-feira, 7 de setembro de 2009
Das diferenças
Escolhi um trabalho em que meus frutos não me alimentam, mas não são estranhos a mim.
Meu fruto sou eu disseminando, disseminado.
Minha arte é minha vida e pertenço a ela.
Não pretendo ser meu próprio assassino.
Mas se meu sangue fraquejar, se já não houver saída...
Aos nossos filhos
Perdoem a cara amarrada,
Perdoem a falta de abraço,
Perdoem a falta de espaço,
Os dias eram assim...
Perdoem por tantos perigos,
Perdoem a falta de abrigo,
Perdoem a falta de amigos,
Os dias eram assim...
Perdoem a falta de folhas,
Perdoem a falta de ar
Perdoem a falta de escolha,
Os dias eram assim...
E quando passarem a limpo,
E quando cortarem os laços,
E quando soltarem os cintos,
Façam a festa por mim...
E quando lavarem a mágoa,
E quando lavarem a alma
E quando lavarem a água,
Lavem os olhos por mim...
Quando brotarem as flores,
Quando crescerem as matas,
Quando colherem os frutos,
Digam o gosto pra mim...
Digam o gosto pra mim...
De Ivan Lins e Vitor Martins
(...) quando já não puder mais sentir o sabor, quando perder o direito de fechar os olhos e abrir as portas, atendam ao pedido deste simples menino e digam o gosto pra mim, digam aos nossos filhos que já fui pássaro, que já fui flor, mas digam que ainda não fui...